Memória
“Os piores caminhos,
os melhores lugares”. Mesmo que essa máxima não reflita necessariamente a
verdade, uma coisa é certa: quanto mais inacessíveis, mais intocados são os
lugares. São Gonçalo reflete bem isso. O passado permanece intacto nas suas
casas coloniais, na sua rua de pedras e na memória das famílias locais.
Quando se chega em São Gonçalo do Rio das Pedras, a primeira
impressão que se tem, é de sermos os primeiros turistas do local. Não apenas
pela sua preservação mas também porque o acolhimento é único.
Muitos viajantes conhecem mais de um São Gonçalo. Só em
Minas Gerais, há São Gonçalo do Sapucaí, do Pará, do Rio Abaixo, do Rio Preto,
do Rio das Pedras e provavelmente alguns outros.
Mas mesmo São Gonçalo do Rio das Pedras, mostra-se um
vilarejo diferente para cada visitante que recebe. Mais do que um arraial belo
e tranqüilo e uma natureza privilegiada, o local é repleto de histórias
interessantes e curiosos personagens de prosa fácil.
Progresso no Ritmo do Interior
Passado recente, progressos como a luz e o telefone ainda
estão vivos na memória dos habitantes de São Gonçalo. Perguntada como se tornou
uma contadora de “causos”, Dona Helena lembra, antes de mais nada, o dia exato,
em 13 de setembro de 1981, que a luz chegou ao vilarejo e como, com ela, a
televisão substituiu a tradição da família de contar histórias ao redor do
fogo. Para dar mais vida à história, mostra o local preciso onde se reunia com
os pais e os irmãos e aponta para o telhado, ainda negro de fuligem.
Nos fundos do Bar do Ademil, uma série de telefones me chama
a atenção e ele então, me conta que era, há menos de dez anos, o operador do único
posto telefônico do vilarejo e como os garotos que levavam os recados cobravam
pela distância percorrida.
Hoje, a chegada da estrada é um novo progresso que divide a
opinião dos moradores do vilarejo e reabre a freqüente discussão, progresso
versus preservação.
Talvez tenha sido o difícil acesso, o responsável por São
Gonçalo ter resistido ao “amplo descobrimento” por tanto tempo. O vilarejo
já foi muito assediado, tendo sido, inclusive, cenário do filme “O Padre e a
Moça” de 1965, com direção de Joaquim Pedro de Andrade e participação de Mário
Lago.
A "gnoma" Dona Helena.
Estrada Real
Muito antes que se falasse em Estrada Real, em 1976, duas suíças, resolveram caminhar de Conceição do Mato Dentro até Diamantina, levando sua bagagem no lombo de um burro alugado. Contando com a hospitalidade dos fazendeiros, almoçavam nas suas propriedades. Descobrindo então em São Gonçalo, uma casa à venda, Anna montou lá uma colônia de férias e mais tarde a primeira pousada do arraial, o Refúgio dos Cinco Amigos. Hoje a história de Anna e São Gonçalo se misturam em inúmeros pontos. Por exemplo, tendo feito na Suíça, Artes Plásticas em Tapeçaria, Anna ensinou esse ofício à crianças e moradoras locais que hoje fazem disso sua fonte de renda.
A suíça Anna, dona da Pousada Cinco Amigos, que descobriu São Gonçalo em sua própria "jeguetrip". Ao seu lado uma de suas tapeçarias.
Alta Gastronomia e Inglês na Serra do Espinhaço
Peter Edwards é outro estrangeiro que se instalou no local. Norte-americano de Boston, Peter dá em sua pousada, Pousada do Capão, cursos de imersão em inglês. Mas sua verdadeira paixão é a gastronomia. Muito atento e sensível aos desejos dos viajantes, seus pratos podem ser um delicioso break na comida mineira, para os viajantes que estão há muito nas estradas de Minas, ou o uso bem criativo de ingredientes locais.
Detalhe da Pousada do Capão
A lenda da Igreja Matriz (tirado da
Wikipedia)
Duas crianças brincavam próximas a
uma goiabeira quando encontraram a imagem de um santo. Seus pais, vendo-a,
levaram-na em romaria à capela mais próxima, em Milho Verde.
No dia seguinte as crianças
encontraram novamente a imagem e assustados, seus pais reuniram de novo uma
romaria afim de retorná-la para a capela. No caminho notaram pequenas pegadas
que julgaram terem sido feitas pela imagem. Entenderam, assim, que o santo
gostaria de ficar no local onde fora encontrado e construíram lá a Igreja
Matriz de São Gonçalo.
Rancho de Tropas e Moinhos
Logo na chegada, próxima à ponte, duas interessantes
atrações históricas para os visitantes: o
Rancho de Tropas (um dos dois únicos remanescentes), local que servia de descanso e troca de
mercadorias entre os tropeiros que levavam alimentos aos garimpos no século XIX
e moinhos centenários usados para fazer fubá que ficam no caminho para a
cachoeira do Comércio.
Pôr-do-sol de Camarote
São Gonçalo encontra-se sobre um platô rochoso de onde
pode-se contemplar maravilhosos por-do-sol. Um dos lugares mais propícios para
isso é no final da rua do Comércio.
Cachoeira da Rapadura
Ao redor de São Gonçalo, há várias caminhadas interessantes
que levam a partes pouco exploradas da Estrada Real, cachoeiras e picos. Uma
delas que vale destaque, a Cachoeira da Rapadura possui duas quedas d’água
subterrâneas. A luz do sol refletida na primeira queda ilumina a caverna e a
segunda queda por cerca de apenas uma hora por dia.
A pedra que dá origem ao nome cachoeira da Rapadura. É nesse ponto que, seguindo o som da água, encontra-se a entrada da cachoeira.
Caminho dos Diamantes
Saindo de BH, os caminhos cruzam-se
com a Estrada Real na altura de Conceição do Mato Dentro.
Dali é possível seguir para Serro pela
rodovia MG-10, mais curta mas de tráfego pesado, ou por Córregos, pela Estrada
Real, um caminho certamente bem mais atraente.
Perfeita como sempre a matéria! Acho muito importante Bruno, mostrar partes lindas do Brasil que são pouco badaladas, Sei que tem muita gente que não conhece, as pessoas tendem a escolher destinos turísticos mais populares, preferem não arriscar, mas vendo essas fotos e a matéria, tenho certeza que aguça a vontade e curiosidade de muita gente. Sei que o Brasil tem seus problemas e são muitos, mas é um país lindo e ainda um bom lugar pra se morar, portanto precisa ser mostrado e valorizado. PARABENS mais uma vez!
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