O ônibus em que eu estava já refletia as dificuldades pelas quais eu passaria. Durante as trinta horas de viagem desde Istambul tive de comunicar-me através de mímicas e desenhos. Apenas dois passageiros falavam um inglês precário. A boa vontade não bastava como ponte entre eu e aquelas pessoas, a maioria bem simples.
Mas enfim ao passar por Tabriz, minha impaciência e impulsividade deram as mãos e saltaram do ônibus, me levando com elas. Quando recobrei a conciência, eram onze da noite, eu estava num país novo com alfabeto, língua e costumes indecifráveis para mim, tentando comunicar ao taxista, que me fitava como se olhasse para um alienígena, que eu precisava encontrar um albergue ou pensão barata.
Após deixar as malas no quarto onde me hospedei, saí à rua gelada caminhando sem direção. Podia escutar um som de multidão distante, certamente havia uma manifestação acontecendo em algum lugar.
Não se trata tanto de coragem mas a questão é mais precisamente que minha curiosidade emerge mais rápido que a série de eventos mentais que me trariam algum juízo e então me atiro às coisas.
Segui o som. Alguns quarteirões mais tarde encontrei uma multidão manisfestando-se com tambores enormes, estandartes e bastões. Em pequenos palanques móveis pessoas gritavam e cantavam.
Eu ignorava completamente o que se passava e pela minha experiência no ônibus não encontraria quem me contasse. Tratava-se, soube apenas na noite seguinte, das celebrações do Shakh Say, morte heróica de um santo xiita, Imam Hossein, neto de Maomé.
Tabriz é uma cidade conservadora, o que traz maior fervor às celebrações que duram todo um mês com distribuição de alimentos, manifestações artísticas, danças e cantos rituais.
Por outro lado, a opressão das leis islâmicas é mais evidente e mais claramente sentida. Nessas cidades a barreira linguística também é maior.
Mas mesmo que muitas vezes eles se considerem um povo à parte, fica nítida sua semelhança com os persas nas tapeçarias e em seu talento nato para as artes.






















