sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Aeroporto de São Paulo

Na fila do desembarque de brasileiros do aeroporto de Guarulhos avistei uma chinesa. Logo a sua frente uma loura alta me lembrava as alemãs de Berlim. Imediatamente atrás das duas um negro e em seguida um sujeito com traços árabes.
13 meses de viagem e uma meia-volta ao mundo para encontrá-los dentro de casa.
Aquela interseção de mundo diante dos meus olhos, encheu-os de água.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Pequenas Histórias de Magia

Ashraf e meu retrato
Faço aniversário no final de outubro. Ninguém na turma sabia disso, muito menos o cozinheiro que não falava inglês. Como a maioria dos paquistaneses o fala e com os inúmeros dialetos existentes pelo país, achei desnecessário aprender hurdu, a língua pátria. Eventualmente entretanto as oportunidades que se perde de conversar com algumas pessoas pode ser uma motivação tentadora. Segundo todos ali era esse o caso. O cozinheiro, Ashraf, parecia de fato uma pessoa interessante.
Muitas vezes quando estava entre eles, ficava rabiscando em meu caderno. Até que um dia Ahraf pediu-me o caderno e mandou me avisar que faria um retrato meu.
Ele olhava atentamente para mim e para o caderno e eu estava um pouco desconcertado e bastante curioso. Enfim entregou-me o caderno com o desenho pequenino de meu signo, um escorpião. Intrigado eu perguntava a ele porque ele desenhara aquilo e ele imaginando minha confusão, apenas gargalhava na minha frente.

A Borra de café
Logo antes de deixar Istambul pedi a Olcay (pronuncia-se Oltchay) para ler minha sorte na borra de café.
Os turcos e armênios têm o costume de fazer o café misturado ao pó. Você o espera decantar antes de tomá-lo e então no final resta uma borra no fundo da xícara que você tampa com o pires, gira 3 vezes e vira de cabeça para baixo. Ao esfriar sua sorte está pronta para ser lida.
Tomamos o café na cozinha de Olcay, virei a xícara e aguardei impacientemente para que ela esfriasse. Entreguei-a então a Olcay que, entre outras coisas, me disse:
- Vejo lágrimas no seu caminho mas não me parecem lágrimas de tristeza. Me parece uma espécie de celebração com muitas pessoas.
Dias depois tomava o ônibus de Istambul a Teerã e ao passar por Tabriz no meio da noite, um desejo me impeliu a descer.
Bastante conservadora, Tabriz celebra o Shakh Say, morte heróica do Imam Hossein (o patriarca dos xiitas), com fervor. Entre as muitas cerimônias que presenciei havia uma em que os homens em roda forçavam um pranto estridente até que as lágrimas lhes escorressem pela face. Sempre imaginei que os oráculos nos revela o futuro através de rebuscadas metáforas, entretanto a previsão de Olcay se concretizava ali exatamente como ela havia descrito.